Cruzada Cívica

A EXPERIÊNCIA de tentar ser VEREADOR na Cidade de EMBU GUAÇU em 2004


A experiência de ter sido candidato a Vereador na Cidade de Embu Guaçu, em 2004, me foi rica, desbravadora, emocionante e frustrante.


Resolvi, então, relatá-la para conhecimento a quem possa interessar, pois, infelizmente, reflete o despreparo que o Cidadão em geral tem para com seus direitos e da importância do voto na democracia e no seu (nosso) dia-a-dia.


Lancei-me a uma jornada cívica para oferecer ao cidadão embuguaçuence minha experiência administrativa de, na época, 28 anos como Engenheiro da Prefeitura de São Paulo e bom conhecedor de inúmeros assuntos municipais, em especial "legislação de uso e ocupação do solo, obras públicas em geral, construção e manutenção de equipamentos públicos e zeladoria de logradouros públicos".


Com o nascimento de minhas 2 filhas gêmeas, Clara e Samira, passei a morar em Embu Guaçu, onde mora há mais de 25 anos minha esposa, que lá possui casa e trabalhava como educadora em escola infantil municipal (atualmente é Professora na EMEI Jd. Silveira em Parelheiros - SP).


Ao começar a frequentar a cidade, no contato com seus habitantes e associado ao meu senso crítico de engenheiro municipal que lida com população há mais de 35 anos, notei que muito poderia ser realizado para o cidadão embuguaçuence pelo Prefeito Municipal e pelos Vereadores se efetivamente desejassem ou tivessem capacidade para essas realizações, o que entendi que não estava acontecendo.


Daí, estive pensando que a forma de colaborar com o progresso desses cidadãos seria um dia ser Vereador, num primeiro momento, para depois após ser conhecido e reconhecido pelo trabalho no legislativo, ser pretendente ao cargo de Prefeito, este que efetivamente é quem dita ou não a qualidade de vida dos cidadãos em função do seu governo.


Nos últimos dias de setembro (dia 28/09/2003) transferi meu título de São Paulo para Embu Guaçu apenas com a intenção de votar junto com minha esposa, sem necessidade de vir a São Paulo, onde ainda mantenho outra residência, sem ter até esta data ainda amadurecido a ideia da vereança.

Como o cartório eleitoral somente funciona após as 11:00 hs adiei uma reunião na Subprefeitura de Santo Amaro para efetivar essa transferência.       À tarde, nessa reunião, com o Chefe de Gabinete da Subprefeitura, membro do PT, comentei o motivo do adiamento da reunião, que foi a transferência do título, e, que se amadurecesse em mim a ideia de uma candidatura a vereança, o domicilio eleitoral já estaria garantido. 


Foi quando me avisou que para ser eu candidato tinha obrigação de estar filiado a um partido político por pelo menos 1 ano, o que implicaria em estar, até o dia 03 de outubro próximo (2003), há cinco dias portanto, inscrito por um partido no cartório eleitoral de Embu Guaçu.   


Não dava mais tempo para procurar um Partido, analisar suas proposta e afinidades com meus pensamentos etc. (até porque me considero essencialmente um técnico e não um "político profissional"), não conhecia ninguém ligado a partidos políticos na Cidade e só me restou aceitar seu oferecimento de me providenciar rapidamente a inscrição no seu Partido, o que efetivamente ocorreu, ficando eu até as eleições de 2004 filiado ao PT de Embu Guaçu.


Me desfiliei em seguida às eleições principalmente porque sou um "liberal" e acredito no "indivíduo", na "meritocracia" e no "Estado mínimo",que não necessariamente é o ideário do PT, embora na Prefeitura de São Paulo presenciei que na prática não tenham pensado diferente do que eu entendo no dia a dia quanto à aplicação dos recursos públicos nas Subprefeituras.


Quando convocado para uma reunião partidária, só em fevereiro de 2003, notei que o Partido em Embu Guaçu não possuía nenhuma infraestrutura de apoio e os poucos filiados, abnegados, desejavam, sem coloração alguma, "apenas" o mesmo objetivo que eu: trabalhar para melhorar a vida dos cidadãos embuguaçuences. 

 

Não comentei com ninguém sobre essa filiação até a data da convenção que a homologou em julho de 2003.


Divulguei a candidatura durante minhas férias de 30 dias antes das eleições, no formato boca a boca com o auxilio do meu falecido cunhado Pecâo que conhecia muita gente, distribuindo santinhos por mim elaborados e impressos, explicando porque eu queria ser vereador, camisetas, bonés, lixas de unha, porta títulos e placas espalhadas pelo Cipó Guaçu - distrito onde concentrei a campanha.


Impressões do resultado eleitoral de minha candidatura:


Veio a eleição e não fui eleito. 


 Minha avaliação do resultado dessa candidatura:

O resultado das urnas foi bom, comentam, embora não tenha sido eleito, porque 183 pessoas (eu incluso, tenho certeza!) sufragaram meu nome para representá-los na Câmara Municipal de Embu Guaçu.

   

Fui mais votado que diversas pessoas tradicionais na política local e recebi mais votos que 88 outros candidatos. Também entendem que foi um bom resultado porque minha campanha teve apenas 1 mês de corpo a corpo e ninguém me conhecia na Cidade, exceto o pessoal da rua em que moro. Esta avaliação também é a de muitas outras pessoas da região e de outras que entendem do assunto.


Eu, particularmente, não gostei deste resultado. Não pelo fato de não ter sido eleito, mas porque na minha contabilidade de votos contava como certo cerca de 600 votos.    Não seria o suficiente para me eleger porque o total de votos de todos os candidatos colegas do Partido, 1850 votos, não atingiram se quer o coeficiente eleitoral para eleger um vereador (3.425 votos), porem 183 votos é muito menos que 600.


O que deu errado?

   

Analisando a situação tenho algumas conjecturas sobre alguns fatores:


1) Inveja

2) Arrogância

3) Número escolhido da minha candidatura

4) Tempo de campanha

5) Influência do candidato a Prefeito e partido

6) O fator eleição majoritária

7) A falta da cultura cidadã

8) Fator "tô nem aí, to nem aí"


1 - Inveja: é um fator muito sério que não levei em conta nas minhas comunicações aos cidadãos. Sempre comentei durante a campanha - para demonstrar que meu interesse era apenas o de colaborar com os cidadãos embuguaçuenses - que a "grande vantagem de votar em mim era que eu NÃO precisava ser Vereador (me referia ao salário que ele recebe) e que só o estava pretendendo ser - o que é pura verdade - por ação de cidadania.   

Esses comentários devem ter soado e entendidos como ser eu pessoa superior aos cidadãos normais e aí a inveja pode ser um caso sério.

 

Este fator conheço da Prefeitura de São Paulo onde, apesar de sermos cerca de 160.000 funcionários, nunca elegemos um candidato da classe, quando poderíamos eleger pelo menos 4 Vereadores numa única eleição.     Ouvi de diversos colegas de qualquer nível acadêmico que achavam "atrevimento e pretensão" determinado colega ter lançado sua candidatura e como resultado nunca nenhum candidato funcionário público municipal teve votação expressiva (o máximo foi de 11.000 votos que para S.Paulo não é nada) e óbvio não se elegeram. No fundo é o "fator inveja" que está atuando...


2 - Arrogância:  

Tem relação direta com meu comentário anterior, pois talvez tenham me achado arrogante ao "dispensar" o salário do vereador - R$3.500,00 (hoje 8 mil) para trabalhar apenas das 16 às 21 horas toda (e apenas) 3ª feira.    Entendo e sempre entendi que o trabalho de político do legislativo deveria ser "honorífico", isto é, sem remuneração pelo cargo. O eleito continuaria a receber da empresa que trabalha e esta empresa seria reembolsada pelo Estado no valor correspondente assim como não ser reeleito por mais de uma vez consecutivamente (ou seja, no máximo 2 mandatos para não formar um "político profissional" e dar espaço para novos cidadãos).


Não poderia agir diferentemente do meu pensamento e então comentei que usaria o salário recebido de Vereador em retribuição na própria Cidade com jornais, site na internet, publicações, todas voltadas à informação e formação da Vereança e Cidadania.     Descobri em conversas posteriores à eleição que muita gente me achava "arrogante e mentiroso" e daí não devem ter votado em mim por não acreditarem nesse comentário de dispensar R$3.500,00 por mês.


3) Número escolhido para representar minha candidatura:

Na convenção que homologa os candidados do partido se deve escolher, em consenso com os demais candidatos, o número que será digitado nas urnas eletrônicas.    Lembro de boas discussões sobre determinados números que alguns que tinha tentado ser candidatos em eleições anteriores desejam mantê-los - e com razão - e, quando chegou minha vez resolvi escolher um número com repetições, que no meu raciocínio lógico seria mais fácial para digitação. O número do partido oficial é 13. E escolhi o sequencial 666. Ficou, então, 13.666 meu número oficial.

Não lembrei na hora e ninguém me avisou que este número 666 é um número consagrado na bíblia como número do Mal.   Por óbvio, com esse número afastei, de imediato o voto de qualquer evangélico que quisesse votar em mim além de muitos católicos.


4 - Tempo de campanha:  

Minha candidatura foi homologada em convenção em julho mas efetivamente só começou em setembro, quando tirei férias de 30 dias e passei a ficar quase o dia todo percorrendo os bairros de Cipó Guaçu e alguns de Embu Guaçu. Foi um tempo muito pequeno se comparado com outros candidatos, que são moradores da cidade de há muito tempo, assim como são candidatos também de há muito tempo. 

 

Talvez o fato de não me conhecer não inspirasse confiança nas pessoas. Não tinha junto comigo nenhum morador emérito da Cidade para me avalizar e tão pouco me associei em "dobradinhas" com políticos tradicionais. Apenas a minha esposa era bem conhecida por ser Educadora de muitos jovens na Cidade, porém somente me acompanhou em poucos dias. 

 

O trabalho "formiguinha" vejo, agora, como indispensável - embora sozinho não garanta votos -. Interessante que minha propaganda, toda criada por mim, envolvia "folders" com uma pequena foto minha e sempre começava com a expressão: "porque quero ser Vereador".   

Em seguida vinham itens do motivo e no verso um pequeno currículo e objetivos. Acho que inovei porque NUNCA vi folders com justificativa do pedido de voto e, tampouco, com o objetivo a ser atingido. 

 

Descobri, também, que conseguir financiamento com empresários não é complicado (estou falando de centenas e não milhares de R$ por empresário) mas NENHUM deseja comprometimento e por isso NÃO aceitam recibos partidários, embora todos desejem notas fiscais de qualquer coisa no valor respectivo, pois não desejam ver suas empresas divulgadas como doadora para não serem estigmatizadas pela imprensa (por exemplo: se ganharem legitimamente uma licitação no Município esta dirá que ganhou por "ter doado na campanha". 

 Portanto, o caixa 2 de campanha, em qualquer nível, acredito que NUNCA vai acabar porque, na verdade, são os financiadores que não desejam ser conhecidos.    Daí talvez dever-se-á fixar um teto de valor de campanha para todos candidatos e deixá-los ser financiados por empresas e civis até o teto permitido e ter uma auditoria efetiva nos gastos declarados.


5 - Influência do candidato à eleição majoritária para Prefeito e seu Partido: 

Assim como eu, o candidato a Prefeito do Partido, não era nem um pouco conhecido (e parece que continuou, agora, um "ilustre desconhecido") e de um partido sem presença marcante na Cidade (mesmo com o Presidente Lula navegando na crista da política econômica do Plano Real e da valorização das "commodities" pela China). 


Esse candidato a prefeito não tinha o dom da palavra e tampouco qualquer empatia pública. Soube por terceiros que muitos cidadãos não votaram em mim porque não queriam votar no candidato a Prefeito do partido e acharam que não poderiam votar em partidos diferentes para Vereador de um partido e o Prefeito de outro. Claro que quando encontro um cidadão a quem pedi voto a resposta é sempre que votou em mim... 

 

6 - O fator "eleição majoritária":  

É consequência do item 4 anterior, ou seja, o povo geralmente vota nos candidatos do mesmo partido do candidato a prefeito, talvez por ser mais fácil para guardar o número, talvez para lhe dar a maioria para governar (honestamente, não acho que tenham tanto "discernimento" assim).   


Não se pode esquecer que, também, no caso de reeleição, o prefeito e os vereadores da situação já fizeram inúmeros "favores" com o dinheiro público, "comprando" indiretamente os votos de muitos cidadãos que retribuem o "favor" em voto.     Este foi o caso do 2º candidato mais votado a vereador que NUNCA apresentou em 8 anos de mandato um ÚNICO projeto de lei de melhoria para a Cidade mas distribui remédios em casa a necessitados (que retira dos postos de saúde municipais).   


O fator "majoritário" também esteve presente no candidato mais votado da Cidade que leva o mesmo apelido do prefeito. Trata-se de um frentista do posto de gasolina do atual prefeito reeleito, que o colocou para completar o número de candidatos da sua legenda e que 1.363 eleitores nele votaram talvez achando que era irmão ou filho do prefeito.


7 - A falta de cultura cidadã: minha campanha foi baseada em objetivos que deveriam ser óbvios mas não foram: 

a) Informar constantemente aos cidadãos como são aplicados os R$26,5 milhões de reais do orçamento municipal (hoje 50 milhões) e os R$1,7 milhões de reais (hoje 3,5 milhões) gastos pela Câmara Municipal; 


b) Das principais funções dos Vereadores que são fiscalizar os atos do Prefeito e votar projetos de lei de interesse da coletividade, ouvindo o máximo de cidadãos para orientar-me como votar; 


c) No oferecimento de minha experiência municipal como Engenheiro há 28 anos da Prefeitura de São Paulo que me dão toda a competência para ser um bom Vereador.   


Entendo que por falta da cultura cívica meu discurso não cativou os cidadãos, tanto que elegeram 10 vereadores com "baixíssimo nível" cultural e cívico sendo que 3 deles já são vereadores atualmente e não só não apresentaram nenhum projeto de lei de melhoria para todos os cidadãos como até mesmo o oposto, que foi o aumento escandaloso do IPTU.     


Me estranhou este fator pois tivemos uma campanha publicitária tão insistente e tão bem feita pelo TSE na televisão e no rádio mostrando e ensinando a importância de votar em candidatos com propostas boas além da insistência da necessidade de votar certo pelas chamadas institucionais da TV GLOBO ou caricaturas de candidatos em suas novelas.


8 - Fator "tô nem aí, tô nem aí":  

Infelizmente, também por falta de cultura cívica e associativa, nosso povo NÃO se interessa e NÃO deseja se interessar por nada que lhe traga, ainda que remotamente, qualquer preocupação ou tomada de decisão além daquelas, já não poucas, do seu dia-a-dia.   


Com todos que comentei porque desejava ser vereador, comentava que "apresentado um projeto de lei na Câmara Municipal, após minha propositura do voto, os consultaria para que me determinassem como votar, a favor ou contra, pois seria seu representante e não dono do mandato de vereador e, portanto, quem deveria decidir era o cidadão e não eu como votar."   


Entendo que este comentário foi entendido como trazer uma preocupação à mais para eles e, como "não estão nem aí" para as coisas públicas (tanto assim que reelegeram o atual Prefeito que é muito pouco eficiente ou eficaz) resolveram não votar em mim para se livrar de mais uma preocupação.


Se entenderem que esqueci algum fator, por favor enviem comentário. 


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